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terça-feira, 24 de abril de 2012

Esclarecimentos mínimos sobre Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento

     Anteontem conversei com um acadêmico de licenciatura em Física. A conversa iniciou satisfatória (pelo menos para mim), ele me fazia perguntas sobre o BEHAVIORISMO RADICAL e eu apresentava meus conhecimentos de iniciante. Fiquei contente com a sua disposição... 
    Entretanto, logo ele me esclareceu que as perguntas se tratavam de um trabalho que ele estava fazendo. Disse a ele que eu era aspirante dessa teoria e a achava, dentre os modelos teóricos da PSICOLOGIA a que melhor se enquadrava com a METODOLOGIA CIENTÍFICA. Como resposta, obtive dele uma afirmação que já não me é estranha:


    Para mim, a teoria behaviorista é tirana e trata os alunos (como era um trabalho que tinha a ver com docência, usou-se aluno, mas a crítica usual é com o conceito de pessoas) como pessoas passivas que não podem agir livremente.

    Devolvi com uma resposta sobre  os mitos que o levaram a essa afirmação e disponibilizando meu e-mail e telefone para posteriores dúvidas que ele tenha sobre o assunto, caso queira conhecer a Análise do Comportamento e o Behaviorismo Radical sem preconceitos.

    Essa conversa serviu-me como estímulo para a criação de um texto básico em tópicos sobre MITOS e VERDADES sobre a Análise do Comportamento (AC) e sobre a filosofia que rege essa ciência, o Behaviorismo Radical (BR).

Let's go, então!

Curto demais colocar essas plaquinhas no
meu Facebook, agora veio para essa postagem.
Generalização?

a) O BR/AC não é uma ciência que estuda, exclusivamente, "ações que podem ser vistas". Existem comportamentos que só podem ser "acessados" por meio do relato do organismo. Esses comportamentos são chamados de ENCOBERTOS, é nesta esfera que estão os ditos "processos cognitivos".

b) O BR/AC não desconsidera as individualidades das pessoas. Ao realizar ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO e levantar o HISTÓRICO DE CONDICIONAMENTO do organismo/pessoa considera-se particularidades que estão ligadas a experiências individuais deste organismo. Diante disso é possível compreender os comportamentos emitidos (ou eliciados, no caso de comportamentos respondentes) pelo organismo, prever comportamentos futuros com maior assertividade e modificá-los.

c) O BR/AC não se limita a estudos e aplicabilidade com animais não-humanos. Apesar das bases científicas do BR/AC surgiram por meio de experimentos com animais não-humanos (ratos e pombos são os mais utilizados), considera-se aspectos EXTRA-ESPÉCIES, ou seja, características que estejam além de barreiras de uma espécie específica. Quando utiliza animais como os mencionados anteriormente, considera-se características comuns de todas as espécies ESPECTROS DA SOBREVIVÊNCIA (alimentação, água e sono) e ESPECTROS DA REPRODUÇÃO (contato sexual e defesa de prole) e todas essas características considerando fatores que devem ser olhados criticamente por questões FILOGENÉTICAS. Estes experimentos se assemelham com outras ciências que utilizam de animais não-humanos para experimentação de medicamentos (porcos e ratos são os mais comuns para esses fins),e como podem ver, as diferenças em tais experimentos são mínimas, dadas a análise crítica de fatores EXTRA-ESPÉCIES.

d) O BR/AC não ignora as "entre linhas". Muito comum ouvir de acadêmicos e profissionais que o BR/AC ignora as entre linhas dos relatos das pessoas, principalmente se tratando de contexto clínico. A verdade é que essa crítica desconsidera as ferramentas que o BR/AC utiliza para compreender o relato verbal. Os relatos do cliente/paciente são mantidos por meio de contingências, assim como demais comportamentos elas podem ser observadas e tradas como qualquer outro COMPORTAMENTO OPERANTE. Além do mais, uma análise funcional objetiva compreender que função determinado comportamento desempenha no organismo.

e) O objeto de estudo do BR/AC é o comportamento. Conceitos como mente, psique, etc. não explicam o comportamento, somente atribuem crédito a entidades sem comprovação científica, portanto, o BR/AC não utilizam destes conceitos.

f) O BR/AC não é Estímulo-Resposta. Essa relação E-R diz respeito a comportamentos respondentes (reflexos como a dilatação de pupilas diante de um flash de luz) e do início do Behaviorismo com sua vertente Metodológica (Behaviorismo Metodológico). No BR/AC, considerou-se a existência de elementos fundamentais para a ação do comportamento que dizem de uma ação discriminativa de estímulos, assim como outras características contingenciais de punição e reforço, por exemplo.


Bom, não haveria espaço para esclarecimentos sobre o Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento em uma postagem de blog como este (até mesmo, porque eu ainda estou dando os meus primeiros passos, hehe), acho que um artigo daria conta para tal tarefa. Essa postagem, de caráter inicial, pode servir de ponto de partida para os que acabaram de conhecer sobre o assunto e estão presos por conceitos pré-estabelecidos sobre a teoria. Fica aqui algumas colocações de incentivo ao estudo da Análise Comportamental e a desmitificação de seu método.

PESSOAL DA EDUCAÇÃO,
 É sério. Conheçam mais sobre a Análise do Comportamento e suas implicações para a educação. ok?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Rebelião em Presidio de Aracaju e sua relação com controle e contra-controle

   "Rebelião em presídio de Aracaju chega ao fim" foi a notícia que me chamou a atenção quando abri o Google Notícias hoje. Como não costumo assistir televisão, acabei sabendo desta situação quando ela já estava encerrada.
    Não sou um blogueiro que trata de comentar temas cotidianos, mas essa notícia me lembrou um conceito interessante em Análise Comportamental, estou falando da relação CONTROLE e CONTRA-CONTROLE. 

Para ver a notícia clique aqui.
   O ambiente carcerário é um local interessante de se observar a relação de CONTROLE. Podemos entender como CONTROLE a "sensação" de equidade entre dois organismos (neste caso, pessoas). Esta "sensação" está ligado a um SISTEMA MÚTUO DE REFORÇAMENTO. No caso do sistema carcerário, os detentos, embora em uma situação de PUNIÇÃO NEGATIVA (diminui a frequência do comportamento socialmente inaceitável pela retirada do estímulo reforçador que é a liberdade física), são REFORÇADOS por elementos que os fazem EMITIR COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE DESEJÁVEIS. Como exemplo de reforçadores deste sistema temos o REFORÇO NEGATIVO de diminuição de pena por bom comportamento, possibilidades de exercício de atividades físicas e/ou trabalhos, acesso a serviços REFORÇADORES intra-institucionais (fala-se de reforço negativo porque os detentos apresentam aumento da frequência do comportamento socialmente desejável pela retirada do estímulo aversivo, neste caso, o ócio, maior reclusão dentro do sistema, maior tempo dentro da penitenciária/prisão). 

    Não é somente os detentos que são reforçados pelo sistema carcerário. Olhando exclusivamente para a instituição carcerária e os envolvidos diretamente com ela (agentes penitenciários, professores, profissionais da saúde, gestores internos, faxineiros, cozinheiros, etc) também SÃO REFORÇADOS PELA INSTITUIÇÃO E PELO RESULTADO CONTINGENCIAL DO BOM COMPORTAMENTO dos detentos. Podemos dizer que o bom comportamento (entenda bom comportamento como comportamento socialmente aceitável pela instituição e por grande parte da sociedade em geral) do detento trará reforçadores financeiros  aos gestores, já que apresentaram uma boa administração, criará uma imagem de sistema sócio-político eficaz, proporcionará "sentimento de segurança" para funcionários (o que aumentará a produção), etc, etc, etc. 

...Tudo anda TRANQUILAMENTE no Presidio Aracaju quando o que acontenceu?

          Uma REBELIÃO. 




E ai? O que aconteceu?

   Agora, falamos da relação de CONTRA-CONTROLE. Não havia mais uma relação de EQUIDADE, não havia mais REFORÇADORES MÚTUOS. Alguém nesta relação detentos/instituição estava sendo REFORÇADA DE FORMA INEFICAZ.

   Este fragmento de texto da reportagem possibilitar perceber indícios que anunciaram a probabilidade desta situação de contra-controle. Veja:


"Os rebelados pediam agilidade nos processos e nas audiências judiciais, mudança do comando do presídio e anulação do contrato com a empresa responsável pela administração prisional."

    Note que estes sujeitos emitiram COMPORTAMENTOS VERBAIS anteriormente de uma situação que indicava a possibilidade de uma ação agressiva de CONTRA-CONTROLE. Relatos verbais são um forte indício de que as pessoas já NOTARAM UMA RELAÇÃO DESIGUAL ou insatisfatória. Protestos políticos, rebeliões de filhos com pais e ações contra um líder autoritário são também exemplos de uma ação de CONTRA-CONTROLE. Nessas relações de desigualdade, há uma quebra de REFORÇADORES MÚTUOS e um dos sujeitos/grupos não é "SACIADO" nesta relação.

   Bom, não cabe a mim avaliar os erros ou falhas para o ocorrido em Aracaju, até mesmo porque não tenho competência para tal. Utilizei o exemplo para exemplificar a relação de controle e contra-controle e de como ESTAR ATENTO A RELATOS VERBAIS é de extrema importância para um líder que deseja alcançar seus objetivos, juntamento com a colaboração dos membros de seu grupo.


ps.: Peço desculpas aos profissionais ou estudantes da área pelo uso de termos como "detento" e "sistema carcerário", caso estes não mais estejam em uso. 

sábado, 14 de abril de 2012

Psicoterapia: Quem precisa dela?

    PSICOTERAPIA é um processo terapêutico realizado por profissional da PSICOLOGIA. Seu objetivo é a AQUISIÇÃO, EXTINÇÃO e MANUTENÇÃO de um REPERTÓRIO COMPORTAMENTAL. Essa pode ser uma definição apriorística para o público em geral
... Mas, PRA QUEM SERVE A PSICOTERAPIA?



   Bom, ao longo do histórico de condicionamento de um organismo existem ESTÍMULOS CONDICIONADOS que se tornam AVERSIVOS ou REFORÇADORES. Skinner em "Questões Recentes na Análise Comportamental" afirma que muitos problemas que necessitam de PSICOTERAPIA estão envolvidos com FALHAS DE CONDICIONAMENTO.

  Podemos compreender essas falhas de condicionamento como sendo COMPORTAMENTOS DESADAPTATIVOS (uso o termo desadaptativo, referindo-se a comportamentos que não são "coerentes" com as contingências existentes). Ou seja, determinado comportamento era REFORÇADO ou PUNIDO em uma determinada CONTINGÊNCIA e não mais o é em outra, a pessoa fez uma GENERALIZAÇÃO. Dentro deste eixo, o sujeito ainda insiste em emitir os MESMOS COMPORTAMENTOS de outrora, no entanto, esses comportamentos não tem uma RELAÇÃO CAUSAL INDEPENDENTE , mas o sujeito assume que seus comportamentos tem relação direta com dado fenômeno, falamos então de um COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO. Assim como a generalização são um conjunto de comportamentos desadaptativos.

  Dadas essas circunstâncias, a pessoa "percebe" essas contingências como aversivas, isso porque o COMPORTAMENTO DO SUJEITO não tem uma relação que é REFORÇADORA de seus antigos comportamentos. Comportamentos que anteriormente era, reforçados, mas agora não mais o são também caem no conjunto de comportamentos desadaptativos. Esses comportamentos que outrora eram reforçados ou punidos, podem estar ligados com a ONTOGÊNESE (histórico de vida da pessoa/organismo) ou FILOGÊNESE (histórico por seleção natural de determinada especie).

 Como EXEMPLO, podemos analisar as seguintes situações:


- João possuía um relacionamento estável com Maria. Todos os dias João mandava mensagens para ela e falava dela constantemente, esse conjunto de comportamento associado as fotos que colecionava dela e a repetição de músicas que continham o nome Maria era coerente com o CONJUNTO DE COMPORTAMENTOS denominado amor. João estava amando Maria. Certo dia, João ligando para Maria e não obtendo resposta resolve visitá-la sem avisar, ao chegar na casa de Maria a vê com outro cara, o Marcos. João sai da casa e realiza uma GENERALIZAÇÃO da contingência. João, a partir de então, não consegue estabelecer novos relacionamentos por "acreditar" que RELACIONAMENTOS SÃO DANOSOS E O FAZEM MAL (é aversivo).

- Lucas (uma criança com IMC superior a 27,2) possui problemas cardíacos graves por sua ingestão impulsiva de doces. Seus pais na tentativa de diminuir que Lucas ingira alimentos com demasia de açúcar, diminui açúcar dos sucos e o impede de comer guloseimas, junto com esta medida, os pais de Lucas o levam a um nutricionista e a um médico para que possam sugerir uma boa alimentação, assim como realizar tratamento para seu problema cardíaco. Após duas semanas de medidas médico-nutricionista, Lucas não consegue dormir, relata estar cansado e apresenta dificuldades de relacionar-se com outras crianças;

Bom, nestes dois exemplos temos duas circunstâncias que seria RECOMENDADO a PSICOTERAPIA.  No primeiro exemplo, temos um caso de dificuldades de relacionamento devido a um estímulo aversivo (traição da amada) que foi GENERALIZADO para quaisquer CONTINGÊNCIAS.

No segundo exemplo, nota-se a necessidade de PSICOTERAPIA associada com outros tratamentos, fala-se uma AÇÃO MULTIDISCIPLINAR. Lucas está diante de uma situação envolvendo uma GENERALIZAÇÃO de ordem FILOGENÉTICA (anteriormente, nossa espécie necessitava de acumulação de glicose para suportar longos períodos de alimentação. Embora esse comportamento ainda prevaleça no homo sapiens sapiens atual, ele não é mais reforçado pela SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE). Um tratamento desta ordem deveria considerar este fator filogenético, associa-lo a estratégias de modificação do comportamento que a) não diminuam seu acesso a doces radicalmente, b) considere os problemas cardíacos da criança, c) considere as estratégicas nutricionais e d) estabeleça treinamento para os pais realizarem manutenção de medidas comportamentais adotadas.


Enfim...
Embora nem todas as pessoas necessitem de PSICOTERAPIA, estar atento as FALHAS DE CONDICIONAMENTO, assim como nos relatos de pessoas envolvidas no seu cotidiano é fundamental para o estabelecimento de um PADRÃO DE VIDA agradável e ADAPTADO as contingências CONSTANTEMENTE MUTÁVEIS.