Páginas

terça-feira, 8 de maio de 2012

A experiência da Prisão de Stanford





  
Quando se associa fatores filogenéticos, ontogenéticos e contingências
programadas: o ambiente carcerário.


   
     Recentemente, um colega de faculdade e amigo me indicou um FILME que de início me chamou muito à atenção pelo enredo e pelas cenas do trailer. O filme em questão era "The Experiment". Fiquei intrigado com o enredo do filme e com as rápidas cenas do trailer, mas a surpresa foi quando este meu colega falou sobre a base da obra cinematográfica: A EXPERIÊNCIA NA PRISÃO DE STANFORD.

    Diante disso, me senti na obrigação de escrever o mínimo sobre esse experimento que é válido para o pessoal interessado no ambiente prisional/carcerário e as alterações possíveis no COMPORTAMENTO humano.

O experimento 
"A nossa investigação, planejada para durar duas semanas, sobre a psicologia da vida prisional, teve que ser concluída prematuramente ao fim de somente seis dias devidos aos efeitos que a situação estava a provocar nos estudantes universitários que nela participavam. Ao fim de poucos dias os nossos guardas tinham-se tornado sádicos e os nossos prisioneiros deprimidos e com sinais de stress extremo".


    
     O experimento consistia no re-arranjo do ambiente acadêmico institucional em um ambiente com as mesmas variáveis do ambiente carcerário comum. Para tal, especialistas e ex-detentos foram convidados para ajudar na realização do ambiente experimental, fazendo com que este fosse o mais próximo da realidade possível. 

     Foram selecionados estudantes universitários que responderam ao anúncio-convite para a participação do experimento, posteriormente foram submetidos a ENTREVISTA CLÍNICA e TESTES PSICOLÓGICOS. Os selecionados eram 24 universitários do sexo masculino dos Estados Unidos e Canadá, estes receberiam 15 dólares por dia de experimento. A proposta era que a observação tivesse duração de 2 semanas.

    Os 24 universitários foram divididos em 2 grupos que foram estabelecidos por meio de sorteio. Um grupo teve como função COMPORTAR-SE como agentes carcerários, enquanto o outro grupo como detentos. O grupo de agentes deveria apreender e levar o grupo de detentos à prisão e realizar procedimentos que mantivessem a ordem da instituição fictícia. O interessante é que fizeram um re-arranjo tão fidedigno a realidade que viaturas, o flagrante, equipamentos e tudo o que tem direito na "vida real" foi providenciado, proporcionando com maior eficiência a GENERALIZAÇÃO das contingências reais às superficiais.

 

Da observação

    Como vou disponibilizar ao fim da postagem (em "Moral da História) o LINK DO SITE OFICIAL do EXPERIMENTO (disponível em vários idiomas, inclusive em português) vou adiantar a apresentação dos comportamentos observados.

     Os detentos, ao longo dos dias da experiência, (o experimento teve que ser abortado por motivos éticos e em prol da saúde dos envolvidos) começaram a ficar "deprimidos" e "submissos", além de apresentar tentativas de CONTRA CONTROLE por meio de uma rebelião. Alguns detentos também apresentaram taxas de frequência de comportamentos variáveis, desde COMPORTAMENTOS DESEJÁVEIS SOCIALMENTE, passando por "problemas dermatológicos psicossomáticos" (em determinadas situações, certos estímulos eliciam respostas que estão "inadequadas" as contingências até a inflação de regras básicas do experimento. Essas respostas "inadequadas" eliciadas, são o que, alguns psicodinâmicos chamam de manifestação psicossomática)

    Obviamente, o COMPORTAMENTO dos guardas também foi CONDICIONADO pelas CONTINGÊNCIAS experimentais. Estes por sua vez  "tornaram-se sádicos" (reforçados pela manifestação de sofrimento de outra pessoa), "extremamente autoritários" (abusavam das condições de controle) e com abuso de poder (controle de contingências extremamente reforçadoras para os guardas em detrimento de menor equidade destas contingências para os detentos / Tipo àquele conceito de justiça sendo burlado).


Moral da história
    
   NÃO, eu não vou contar os resultados do experimento. Podem me chamar de preguiçoso, mas faço isso para que vocês possam conferir na íntegra TODO O EXPERIMENTO e não saírem por aí falando que o experimento é desumano ou DEU ERRADO, como eu vi em muitos blogs que não se deram ao trabalho de ler todo o texto e nem de disponibilizar aos seus leitores.

Mas...

     Acho válido fazer alguns Levantamentos relevantes sobre a experiência

"A que contingências nosso comportamento é função?"
    Zimbardo (autor da pesquisa), posteriormente escreveu um livro chamado "O efeito Lúcifer". Esta obra provavelmente fala das etapas e procedimentos da experiência, associado à reflexões sobre a possível "natureza humana". Ela é boa? Ela é ruim? Ela é influenciável?. Bom, em todo caso, algo deve ficar claro TODO COMPORTAMENTO É ÚTIL PARA MANUTENÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA. Ele não está lá por seguir um "instinto de bondade ou maldade", ele existe por SER FUNÇÃO e ter VALOR VITAL.

   Nesta experiência, destaca-se elementos que devem ser considerados em qualquer leitura deste processo. Alguns que me atentei ao ler sobre o experimento foram:

a) As contingências modelam o comportamento mais do que regras. Existiam várias regras que ambos os grupos deveriam seguir, entretanto, devido ao "gritante" das contingências, os grupos se comportaram regidos PELAS CONTINGÊNCIAS, enquanto as regras não foram suficientemente REFORÇADORAS ou AVERSIVAS para que controlassem o comportamento destes grupos;

b) O ambiente carcerário é reforçador para MUITOS profissionais "sádicos". Assim como muitas pessoas são reforçadas a ver cenas de assassinato de "criminosos" por uma generalização, profissionais que trabalham com a segurança das organizações carcerárias não estão "livres" desta generalização. Resultado: Agredir a população carcerária se torna extremamente reforçadora para profissionais mal treinados. Obviamente, em uma situação de Controle e total discrepância de equidade (relação igual entre duas partes), não é de se estranhar o surgimento de uma relação de contra-controle que perpetua por um longo período (se não for por toda a história do sistema carcerário) conflitos entre detentos e profissionais;

c) Pessoas não são boas ou más naturalmente. Elas simplesmente se comportam adequando-se as contingências. Muitos utilizam deste experimento para um questionamento sobre a "verdadeira natureza humana: boa ou ruim". Acho tal discussão prolixa e circular. A definição de bondade e maldade tem finalidades práticas e teóricas quando avaliamos sociedades isoladas em conformidade com a ética, se falamos de uma legitimidade e universalidade de uma espécie, definições por períodos e culturas isoladas caem no problema do reducionismo de informações;

d) Necessidade de mudança dos sistemas carcerários. Se considerarmos este experimento, associado ao referencial bibliográfico sobre o assunto, me pergunto o por quê de já não haver uma análise minuciosa do sistema carcerário em prol de um modelo mais efetivo e educativo?
 Não se trata de "dar moleza" aos detentos, mas sim de uma formulação mais eficiente de um problema que já é velho. Se conhece os erros gritantes deste sistema, no entanto, mantem-se o modelo tradicional. Acredito que a ANÁLISE DO COMPORTAMENTO tem um grande arsenal TEÓRICO-PRÁTICO a oferecer e uma possível reformulação deste sistema.



__________________________________________________________________________
Trailer do filme "The experiment" (Detenção - 2010):

Link do site da Experiência da prisão de Stanford para quem "não pegou" no decorrer do texto:http://www.prisonexp.org/portugues/

Nenhum comentário:

Postar um comentário