Páginas

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Falácias na argumentação: Uma ênfase na Psicologia

 
    Nesta postagem focarei mais em situações acadêmicas da PSICOLOGIA (me refiro aos exemplos), embora o tema tratado aqui seja válido para quaisquer ÁREAS DO CONHECIMENTO ou DISCUSSÕES que objetivam seguir a LÓGICA.

     Primeiramente, acho válido apresentar o que são FALÁCIAS e a importância de se policiar para não emiti-las, visto que elas podem DESCREDIBILIZAR sua argumentação e, pior, pecar contra a HONESTIDADE INTELECTUAL. Ainda neste primeiro momento, acho pertinente apresentar o texto que me ESTIMULOU a fazer esta postagem.

    Vou deixar que Luis Alberto WARAT (1984) fale sobre o que são falácias não-formais em um trecho de seu artigo "Técnicas Argumentativas na prática jurídica":

"(...) os lógicos usam a expressão “falácias não formais” para se

referirem aos raciocínios desprovidos de rigor lógico. Ou seja, ao conjunto
de afirmações obtidas transgredindo ou não considerando devidamente as
regras de derivação de um raciocínio lógico estrito".
    Para fins didáticos, utilizarei somente o conceito de FALÁCIAS,  referindo-se a essas falácias  que estão desprovidas de rigor lógico. Caso se interesse, para LER ou FAZER O DOWNLOAD do artigo do Warat, basta clicar AQUI.

    O texto que me estimulou a fazer essa postagem é a postagem no blog Psicológico intitulada "Teorias na Psicologia: quanto mais complexas melhor?". Nesta postagem, Felipe Epaminondas apresenta um problema de argumentação muito comum na Psicologia que é a crença de que as teorias de explicação do comportamento humano devem ser mais complexas que as demais explicações de fenômenos naturais. Em um texto curto e direto, Felipe defende que esse ESTEREÓTIPO é um tanto quanto errôneo. A postagem em si já denuncia uma falácia comum no ambiente acadêmico da Psicologia: Quanto mais incompreensível é um evento, maior é o nível de veracidade.

    Caso queira ler a postagem, na qual RECOMENDO MUITO, é só clicar aqui.

    Acho válido conhecer essas falácias e exemplos, porque muitas vezes nem nos damos conta de que estamos as usando e somos levados pelo "calor da emoção", sem nos comprometer verdadeiramente com o objetivo central da discussão: A divulgação e troca de conhecimentos. Além do mais, considerando que o ambiente acadêmico da Psicologia é marcado por constantes debates e discussões acerca de variados temas, conhecer tais falácias é uma ferramenta a mais para evitar contradições e erros lógicos gritantes.


Agora...

Hey Oh.
Let's Go!



Falácias e exemplos na PSICOLOGIA


Argumentum ad Hominem
Ao invés do argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.
- "A análise do comportamento é insensível, e as pessoas que a defendem são frios e reducionistas".
- " A Psicanálise é prolixa, as pessoas que trabalham com essa abordagem não falam coisas com sentido".


Argumentum ad Ignorantium (argumento da ignorância)
Ocorre quando algo é considerado verdadeiro simplesmente pois não foi provado falso (ou provar que algo é falso por não ter provas de que seja verdade). Note que é diferente do principio científico de se considerar falso ate que seja provado que é verdadeiro.
-  O inconsciente existe, porque ninguém pode provar que ele não exista.


Argumentum ad Populum
Apelo ao povo. É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.

- A mente existe, porque todo mundo refere-se a ela em seus diálogos.

Argumentum ad Numeram
Semelhante ao "ad populum". Afirma que quanto mais pessoas acreditam em uma preposição, mais provável é a preposição de ser verdadeira.

- Considerando que há maior número de Psicanalistas no Brasil, ela é a abordagem mais coerente com a realidade.

Argumentum ad Verecundiam
Apelo a autoridade eminente [Essa é ótima. É a que mais vejo em TODOS OS CAMPOS CIENTÍFICOS, e na Psicologia não é diferente]

- Freud é o pai da Psicologia clínica, ele trabalhava com a Psicanálise e seus pacientes eram curados da histeria.
- Aaron Beck menciona sobre os pensamentos "desadaptativos", ele não pode estar errado. 

Dicto Simpliciter
Ocorre quando uma regra geral é aplicada a um caso particular onde a regra não deveria ser aplicada.

- Esquizofrênicos sempre emitem o comportamento de alucinar, Joana não alucinou, logo, ela não é esquizofrênica.

Generalização Apressada
É o oposto do Dicto Simpliciter. Ocorre quando uma regra especifica é atribuída ao caso genérico.

- As famílias, de modo geral, sempre possuem dentro de seu núcleo papéis estabelecidos como: bode expiatório, o sintoma, o segredo, o líder, etc.

Non causa pro causa / post hoc ergo propter hoc
Dois eventos ocorrem um após o outro. O primeiro é identificado como o causador do segundo quando não é o caso [Aqui mais outra fichinha muito comum]
- O simples fato de escutar alguém, já o cura de muitos de suas angustias. Marcos foi ouvido por um psicólogo e no dia seguinte estava mais calmo.


Cum hoc ergo propter hoc
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.

- Sempre que começa o pôr do sol, os pacientes psiquiátricos apresentam comportamentos bizarros.

Petitio Principii
Ocorre quando as premissas são tão questionáveis quanto a conclusão alcançada.

- O tratamento com cromoterapia melhora a capacidade de concentração das pessoas, isso porque ela está relacionada com a recepção das 6 cores pelos poros do organismo.

Circulus in Demonstrando
Ocorre quando alguém assume como premissa a conclusão que se quer chegar [Por mais bizarro que esta falácia possa parecer, ela não é tão incomum quanto se pensa]
- Sabemos da existência do inconsciente porque as pessoas nem sempre sabem explicar sobre seus comportamentos. Se as pessoas não sabem explicar sobre seus comportamentos, o inconsciente controlou a ação.


Falacia da Pressuposição.
Questiona um fato assumindo um presuposto verdadeiro.
- Como os comportamentos podem ocorrer sem antes se passarem pela mente?


Ignoratio Elenchi
Ou Falacia da Conclusão Irrelevante. Consiste em utilizar argumentos válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados. [Acho que essa é o ápice da desonestidade intelectual. Vou até esforçar em apresentar exemplos que presenciei]

- As pessoas quando "distraídas" atravessam as ruas sem se notarem que um carro se aproxima. Isso ocorre devido á pulsão de morte que encaminha as pessoas na tentativa de auto-destruição.
- As pessoas relatam sentir dores de cabeça quando estudam demais. Isso ocorre porque a mente delas funciona rapidamente.
- Os seres humanos construíram casas, fazem arte, sabem se comunicar por palavras. Isso ocorre porque são MAIS EVOLUÍDOS que os demais animais.

Falacia de Composição
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.

- As pupilas se dilatam na presença de um flash de luz (reflexo), logo, todo o organismo se comporta por ação reflexa.

Falácia da Divisão
Oposto da falácia de composição. Assume que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.

- Behaviorismo(s) só considera(m) o Estímulo-Resposta, logo, Análise do Comportamento e Behaviorismo Radical são reducionistas por delimitar tudo a S-R.

Slippery Slope
Este argumento diz que se um evento ocorre, então ocorrerá diversos outros eventos similares, sem prova que estes foram causados pelo primeiro evento.

- Se considerarmos que seres humanos estão sujeitos as mesmas leis naturais que os demais animais, também deveremos considerar que bater, matar ou colocar seres humanos em cativeiros é algo admissível. 
.
Bifurcação
Tambem conhecida como "falácia do branco e preto". Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
- Você é Psicanalista ou Behaviorista? 


Argumentum ad Antiquitam
Falácia que assume que algo é certo ou errado simplesmente por ser muito antigo, ou "pois sempre foi assim". [Um dos exemplos abaixo eu presenciei recentemente em uma discussão no Facebook e a outra em sala de aula]

- A Psicanálise é a mais velha, é a mais velha entre as abordagens existentes, não é necessário nem discutir sua validade.
- Não é necessário discutir isso com você, afinal, estamos falando de um conjunto teórico com um longo período de existência.

Argumentum ad Novitam
Oposto do ad Antiquitam. Assume que por algo é mais correto simplesmente por ser mais novo [É duro dar este exemplo, mas também já presenciei]

- A Análise do comportamento é uma ciência nova, logo, ela está mais coerente com a compreensão de ser humano.

Plurium Interrogationum
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.

- Está vendo? Você precisou explicar todos estes conceitos de tactos, mandos, auto-regras, etc. para explicar sobre o comportamento verbal, por que não assume de uma vez que isso é devido a formulação de representações mentais?

Reificação
Ocorre quando um conceito abstrato é tratado como coisa concreta.

- Existem diversas formas de controlarmos nossa mente, sabendo fazê-lo somos capazes de modificar o comportamento que quisermos.

Tu Quoque
Falácia do "mas você também". Ocorre quando uma ação se torna aceitável pois outra pessoa também a cometeu.
- Hey! Você está falando sem apresentar provas.

- E daí? Você também o fazia quando estava do nosso lado,

_______________________________________________________


A apresentação destas falácias foram embasadas neste material AQUI, a seleção dos que mais se aproximam com a realidade da discussão em Psicologia e seus exemplos foram selecionados por mim. Quaisquer dúvidas, sugestões, críticas e insultos fiquem livres para fazê-lo.

    

Um comentário:

  1. Walison, parabéns pela postagem. Cara, você poderia indicar leituras ou fontes para pesquisar mais sobre falácias?

    ResponderExcluir