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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Amizade e Seleção Natural

        Feliz dia da amizade! VIVA!
     Mas 'peraí'... Podemos compreender a amizade a Luz da Teoria Evolucionista? Ou ela é algo realmente mágico que somente existe em interações da espécie humana?


    Primeiramente, vamos definir o que estou chamando de AMIZADE e que, provavelmente, as pessoas também consideram como sendo.

     Amizade é um processo de interação de grupos no qual pelo menos uma das partes recebem benefícios para a manutenção de sua sobrevivência (alimentação, proteção, conforto, etc). Essa interação não tem fins reprodutivos, o que diferencia da interação conjugal (reprodutiva). E para diferenciar relações de amizade das relações familiares, considera-se que relação de amizade ocorre em indivíduos sem parentesco direto (parentes 'carnais').
     Essa é uma definição que criei para definirmos amizade objetivamente, mas estou aberto para ouvir sugestões melhores (mas, por favor, não venha com definições poéticas, porque eu sei que vocês podem mais).

     Estou consciente que existe amizade intra-familiar, mas esse tipo de interação, assim como a interação conjugal, se caracteriza por fatores filogenéticos de defesa ou reprodução dos genes - Lembremos que nossos familiares compartilham de grande parte de nossos genes e que nossos cônjuges/parceiros (falei nossos cônjuges/parceiros, mas quero dizer SEUS, rs) tem proles conosco ou futuramente terão (sendo bem simplista, mas acho que todos já se atentaram a eventuais exceções na minha colocação sobre interação conjugal e proles). Dado estas colocações, o que levaria a indivíduos sem parentesco ou prole compartilhada estabelecerem relações tão próximas?

      As relações de amizade são compreendidas a luz da Psicologia Evolucionista como resultado da SELEÇÃO NATURAL. Para compreendermos como a Seleção Natural atuou neste processo, segue abaixo algumas das CONTINGÊNCIAS que estavam presentes para a seleção deste repertório comportamental em nossa espécie e nos demais primatas.

1) Num ambiente ancestral, os indivíduos que não estabeleciam interação com outros tinham maior probabilidade de morrer do que àqueles que estabeleciam. Isso porque comparado com outros predadores somos relativamente lentos e como presas somos relativamente fracos. Entretanto, associando-se em grupos os indivíduos podiam estabelecer estratégias que favorecessem a caça (divisão de setores ou encurralamento da presa) e que favorecessem a fuga (uso de sentinelas ou uso de métodos de distração).

2) A seleção natural não ocorre sem transmissão de carga genética, portanto, àqueles sujeitos que apresentavam o repertório comportamental de interação grupal conseguiam transmitir seus genes com maior probabilidade do que àqueles que não tinham este repertório (isso é óbvio! Afinal, se o cara morreu devorado por predadores ou no frio da noite, como poderia reproduzir e assim transmitir seus genes?). Resultado: A população com repertório de interação social tornou-se maior do que àqueles que não tinham tal repertório.

3) Agora vai o ponto final da receita. Claro que os aspectos acima não definem totalmente a amizade como a conhecemos hoje, já que as relações sociais que denominamos de amizade tem um cunho familiar. Basta olharmos para nosso repertório verbal ao chamar o melhor amigo de "brother" ou àquelas pessoas que tem interesse em comum de família (tipo, "família Restart". Eita, exemplo). Podemos deduzir que o que define a amizade é justamente os aspectos acima, associados ao sentimento familiar, ou seja, o sentimento de compartilhar dos mesmos genes com indivíduos sem parentesco. Daí mais uma questão: Como surgiu o sentimento familiar, que caracteriza a amizade?
  Pois bem, meus caros amigos, essa colher final de nossa receita da formação da amizade é o ALTRUÍSMO. Essa relação de altruísmo se caracteriza pelo investimento de energia para ajudar um outro indivíduo sem receber nada em troca. E a isso, podemos chamar de COMPORTAMENTO MAL ADAPTATIVO


MAL ADAPTATIVO? MAL ADAPTATIVO? QUÊ?

      Sim. MAL ADAPTATIVO. Isso baseado na teoria da seleção de parentesco de Willian Hamilton
    Em suma, a teoria propõe que as relações de altruísmo, no qual o indivíduo oferece algo sem esperar nada em troca, foi resultado de um 'erro' adaptativo no qual confundimos indivíduos que estabelecemos interações com nossos familiares. Essa confusão acontece porque no período de caça os grupos eram organizados basicamente em famílias. Entretanto com o advento dos meios de produção por agricultura (o que a termo de adaptação foi um processo de mudança de contingências relativamente rápida para adaptação da espécie) os indivíduos se organizaram por proximidade, já que não haviam muita distância entre a localização de uma família e outra. Resultado: não havendo distinção clara de membros da família, os indivíduos investiam seus recursos em outros indivíduos que não os ofereciam nada em troca.

     Bem, existem os fatores ontogenéticos que vão reforçar ou punir determinados comportamentos na interação de amizade, considerando que isso varia de indivíduo e cultura, acabo a postagem por aqui com o foco exclusivamente nas variáveis filogenéticas. As variáveis ontogenéticas estarão vinculadas a análise funcional do repertório de cada organismo.


   Agora, me convidem para uma boa rodada de Chopp (ou de cerveja mesmo) e vamos curtir o DIA DA INTERAÇÃO GRUPAL DE HOMO SAPIENS MOTIVADOS PELA SOBREVIVÊNCIA E PELA MÁ ADAPTAÇÃO QUE DEU ORIGEM AO ALTRUÍSMO.


     Ah, e para você que se interessou pelo tema. Sugiro a leitura da tese de Mestrado do César Oscar Ornelas  que é EXCLUSIVAMENTE sobre o tema aqui abordado. Clique AQUI para baixar a tese.

6 comentários:

  1. A gente não vive sem os amigos, ainda mais os verdadeiros

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  2. Amigos são poucos e temos que valorizá-los.

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  3. Muito esclarecedor e instigante o conteúdo do texto.
    Sobre a estrutura, não pude deixar de notar um detalhe: o seu esforço para se justificar e evitar que um leitor malicioso ou desinformado desvie o foco. Acredito que essa prática, embora possa se mostrar necessária, gera um desgaste no resultado final da redação e, talvez, no próprio escritor. Considerando que sempre haverá imaturidade da parte dos que escolhem não entender, pode ser uma boa ideia moderar o uso desse recurso, mesmo com as inevitáveis consequências.

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  4. Obrigado, Jairo.

    Realmente, cara, invisto muito em tentar evitar más interpretações. O que acaba deixando a redação um pouco extensa. RESULTADO: Acabo tendo um pouco de prolixidez e ainda o texto fica longo, rs.

    Acho sua dica válida e nos próximos textos vou tentar evitar essas justificativas exageradas. Vai ser um pouco difícil, já que o modo que eu escrevo é muito parecido com a forma que eu falo, mas acho que dá para ser mais objetivo sem perder a naturalidade.

    Abraço!

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  5. Concordo com Jairo, e prefiro pensar que os 3 primeiros comentários foram pra te trollar mesmo Walison.. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...

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