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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Falácias na argumentação: Uma ênfase na Psicologia

 
    Nesta postagem focarei mais em situações acadêmicas da PSICOLOGIA (me refiro aos exemplos), embora o tema tratado aqui seja válido para quaisquer ÁREAS DO CONHECIMENTO ou DISCUSSÕES que objetivam seguir a LÓGICA.

     Primeiramente, acho válido apresentar o que são FALÁCIAS e a importância de se policiar para não emiti-las, visto que elas podem DESCREDIBILIZAR sua argumentação e, pior, pecar contra a HONESTIDADE INTELECTUAL. Ainda neste primeiro momento, acho pertinente apresentar o texto que me ESTIMULOU a fazer esta postagem.

    Vou deixar que Luis Alberto WARAT (1984) fale sobre o que são falácias não-formais em um trecho de seu artigo "Técnicas Argumentativas na prática jurídica":

"(...) os lógicos usam a expressão “falácias não formais” para se

referirem aos raciocínios desprovidos de rigor lógico. Ou seja, ao conjunto
de afirmações obtidas transgredindo ou não considerando devidamente as
regras de derivação de um raciocínio lógico estrito".
    Para fins didáticos, utilizarei somente o conceito de FALÁCIAS,  referindo-se a essas falácias  que estão desprovidas de rigor lógico. Caso se interesse, para LER ou FAZER O DOWNLOAD do artigo do Warat, basta clicar AQUI.

    O texto que me estimulou a fazer essa postagem é a postagem no blog Psicológico intitulada "Teorias na Psicologia: quanto mais complexas melhor?". Nesta postagem, Felipe Epaminondas apresenta um problema de argumentação muito comum na Psicologia que é a crença de que as teorias de explicação do comportamento humano devem ser mais complexas que as demais explicações de fenômenos naturais. Em um texto curto e direto, Felipe defende que esse ESTEREÓTIPO é um tanto quanto errôneo. A postagem em si já denuncia uma falácia comum no ambiente acadêmico da Psicologia: Quanto mais incompreensível é um evento, maior é o nível de veracidade.

    Caso queira ler a postagem, na qual RECOMENDO MUITO, é só clicar aqui.

    Acho válido conhecer essas falácias e exemplos, porque muitas vezes nem nos damos conta de que estamos as usando e somos levados pelo "calor da emoção", sem nos comprometer verdadeiramente com o objetivo central da discussão: A divulgação e troca de conhecimentos. Além do mais, considerando que o ambiente acadêmico da Psicologia é marcado por constantes debates e discussões acerca de variados temas, conhecer tais falácias é uma ferramenta a mais para evitar contradições e erros lógicos gritantes.


Agora...

Hey Oh.
Let's Go!



Falácias e exemplos na PSICOLOGIA


Argumentum ad Hominem
Ao invés do argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.
- "A análise do comportamento é insensível, e as pessoas que a defendem são frios e reducionistas".
- " A Psicanálise é prolixa, as pessoas que trabalham com essa abordagem não falam coisas com sentido".


Argumentum ad Ignorantium (argumento da ignorância)
Ocorre quando algo é considerado verdadeiro simplesmente pois não foi provado falso (ou provar que algo é falso por não ter provas de que seja verdade). Note que é diferente do principio científico de se considerar falso ate que seja provado que é verdadeiro.
-  O inconsciente existe, porque ninguém pode provar que ele não exista.


Argumentum ad Populum
Apelo ao povo. É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.

- A mente existe, porque todo mundo refere-se a ela em seus diálogos.

Argumentum ad Numeram
Semelhante ao "ad populum". Afirma que quanto mais pessoas acreditam em uma preposição, mais provável é a preposição de ser verdadeira.

- Considerando que há maior número de Psicanalistas no Brasil, ela é a abordagem mais coerente com a realidade.

Argumentum ad Verecundiam
Apelo a autoridade eminente [Essa é ótima. É a que mais vejo em TODOS OS CAMPOS CIENTÍFICOS, e na Psicologia não é diferente]

- Freud é o pai da Psicologia clínica, ele trabalhava com a Psicanálise e seus pacientes eram curados da histeria.
- Aaron Beck menciona sobre os pensamentos "desadaptativos", ele não pode estar errado. 

Dicto Simpliciter
Ocorre quando uma regra geral é aplicada a um caso particular onde a regra não deveria ser aplicada.

- Esquizofrênicos sempre emitem o comportamento de alucinar, Joana não alucinou, logo, ela não é esquizofrênica.

Generalização Apressada
É o oposto do Dicto Simpliciter. Ocorre quando uma regra especifica é atribuída ao caso genérico.

- As famílias, de modo geral, sempre possuem dentro de seu núcleo papéis estabelecidos como: bode expiatório, o sintoma, o segredo, o líder, etc.

Non causa pro causa / post hoc ergo propter hoc
Dois eventos ocorrem um após o outro. O primeiro é identificado como o causador do segundo quando não é o caso [Aqui mais outra fichinha muito comum]
- O simples fato de escutar alguém, já o cura de muitos de suas angustias. Marcos foi ouvido por um psicólogo e no dia seguinte estava mais calmo.


Cum hoc ergo propter hoc
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.

- Sempre que começa o pôr do sol, os pacientes psiquiátricos apresentam comportamentos bizarros.

Petitio Principii
Ocorre quando as premissas são tão questionáveis quanto a conclusão alcançada.

- O tratamento com cromoterapia melhora a capacidade de concentração das pessoas, isso porque ela está relacionada com a recepção das 6 cores pelos poros do organismo.

Circulus in Demonstrando
Ocorre quando alguém assume como premissa a conclusão que se quer chegar [Por mais bizarro que esta falácia possa parecer, ela não é tão incomum quanto se pensa]
- Sabemos da existência do inconsciente porque as pessoas nem sempre sabem explicar sobre seus comportamentos. Se as pessoas não sabem explicar sobre seus comportamentos, o inconsciente controlou a ação.


Falacia da Pressuposição.
Questiona um fato assumindo um presuposto verdadeiro.
- Como os comportamentos podem ocorrer sem antes se passarem pela mente?


Ignoratio Elenchi
Ou Falacia da Conclusão Irrelevante. Consiste em utilizar argumentos válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados. [Acho que essa é o ápice da desonestidade intelectual. Vou até esforçar em apresentar exemplos que presenciei]

- As pessoas quando "distraídas" atravessam as ruas sem se notarem que um carro se aproxima. Isso ocorre devido á pulsão de morte que encaminha as pessoas na tentativa de auto-destruição.
- As pessoas relatam sentir dores de cabeça quando estudam demais. Isso ocorre porque a mente delas funciona rapidamente.
- Os seres humanos construíram casas, fazem arte, sabem se comunicar por palavras. Isso ocorre porque são MAIS EVOLUÍDOS que os demais animais.

Falacia de Composição
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.

- As pupilas se dilatam na presença de um flash de luz (reflexo), logo, todo o organismo se comporta por ação reflexa.

Falácia da Divisão
Oposto da falácia de composição. Assume que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.

- Behaviorismo(s) só considera(m) o Estímulo-Resposta, logo, Análise do Comportamento e Behaviorismo Radical são reducionistas por delimitar tudo a S-R.

Slippery Slope
Este argumento diz que se um evento ocorre, então ocorrerá diversos outros eventos similares, sem prova que estes foram causados pelo primeiro evento.

- Se considerarmos que seres humanos estão sujeitos as mesmas leis naturais que os demais animais, também deveremos considerar que bater, matar ou colocar seres humanos em cativeiros é algo admissível. 
.
Bifurcação
Tambem conhecida como "falácia do branco e preto". Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
- Você é Psicanalista ou Behaviorista? 


Argumentum ad Antiquitam
Falácia que assume que algo é certo ou errado simplesmente por ser muito antigo, ou "pois sempre foi assim". [Um dos exemplos abaixo eu presenciei recentemente em uma discussão no Facebook e a outra em sala de aula]

- A Psicanálise é a mais velha, é a mais velha entre as abordagens existentes, não é necessário nem discutir sua validade.
- Não é necessário discutir isso com você, afinal, estamos falando de um conjunto teórico com um longo período de existência.

Argumentum ad Novitam
Oposto do ad Antiquitam. Assume que por algo é mais correto simplesmente por ser mais novo [É duro dar este exemplo, mas também já presenciei]

- A Análise do comportamento é uma ciência nova, logo, ela está mais coerente com a compreensão de ser humano.

Plurium Interrogationum
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.

- Está vendo? Você precisou explicar todos estes conceitos de tactos, mandos, auto-regras, etc. para explicar sobre o comportamento verbal, por que não assume de uma vez que isso é devido a formulação de representações mentais?

Reificação
Ocorre quando um conceito abstrato é tratado como coisa concreta.

- Existem diversas formas de controlarmos nossa mente, sabendo fazê-lo somos capazes de modificar o comportamento que quisermos.

Tu Quoque
Falácia do "mas você também". Ocorre quando uma ação se torna aceitável pois outra pessoa também a cometeu.
- Hey! Você está falando sem apresentar provas.

- E daí? Você também o fazia quando estava do nosso lado,

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A apresentação destas falácias foram embasadas neste material AQUI, a seleção dos que mais se aproximam com a realidade da discussão em Psicologia e seus exemplos foram selecionados por mim. Quaisquer dúvidas, sugestões, críticas e insultos fiquem livres para fazê-lo.

    

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cisne Negro: Uma análise comportamental por Helio José Guilhardi [Download]

 

    Recentemente recebi de um amigo e aspirante a Ánalise do Comportamento um artigo, inicialmente, curioso e de fato, fantástico. Trata-se do artigo CISNE NEGRO: ANÁLISE COMPORTAMENTAL DE UMA TRAGÉDIA de Guilhardi.

    Guilhardi faz uma crítica sobre a visão generalizada das ANÁLISES MENTALISTAS de que Nina (personagem principal) sofre de um "surto psicótico". Enfim, o artigo é um material que é válido para COMPARTILHAMENTO ENTRE CINÉFILOS e/ou ASPIRANTES OU PROFISSIONAIS DA AC, já que apresenta UMA POSSIBILIDADE de compreendermos as obras cinematográficas por um olhar além do habitual.

   Ah, e ainda é válido para ESTUDANTES DE PSICOPATOLOGIA que necessitam apurar o SENSO DESCRITIVO E DE OBSERVAÇÃO de fenômenos nosológicos (patologias e sua classificações) ou pseudo-nosológicos.

Para baixar o arquivo em PDF clique AQUI!

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Trailer "Cisne Negro"

terça-feira, 8 de maio de 2012

A experiência da Prisão de Stanford





  
Quando se associa fatores filogenéticos, ontogenéticos e contingências
programadas: o ambiente carcerário.


   
     Recentemente, um colega de faculdade e amigo me indicou um FILME que de início me chamou muito à atenção pelo enredo e pelas cenas do trailer. O filme em questão era "The Experiment". Fiquei intrigado com o enredo do filme e com as rápidas cenas do trailer, mas a surpresa foi quando este meu colega falou sobre a base da obra cinematográfica: A EXPERIÊNCIA NA PRISÃO DE STANFORD.

    Diante disso, me senti na obrigação de escrever o mínimo sobre esse experimento que é válido para o pessoal interessado no ambiente prisional/carcerário e as alterações possíveis no COMPORTAMENTO humano.

O experimento 
"A nossa investigação, planejada para durar duas semanas, sobre a psicologia da vida prisional, teve que ser concluída prematuramente ao fim de somente seis dias devidos aos efeitos que a situação estava a provocar nos estudantes universitários que nela participavam. Ao fim de poucos dias os nossos guardas tinham-se tornado sádicos e os nossos prisioneiros deprimidos e com sinais de stress extremo".


    
     O experimento consistia no re-arranjo do ambiente acadêmico institucional em um ambiente com as mesmas variáveis do ambiente carcerário comum. Para tal, especialistas e ex-detentos foram convidados para ajudar na realização do ambiente experimental, fazendo com que este fosse o mais próximo da realidade possível. 

     Foram selecionados estudantes universitários que responderam ao anúncio-convite para a participação do experimento, posteriormente foram submetidos a ENTREVISTA CLÍNICA e TESTES PSICOLÓGICOS. Os selecionados eram 24 universitários do sexo masculino dos Estados Unidos e Canadá, estes receberiam 15 dólares por dia de experimento. A proposta era que a observação tivesse duração de 2 semanas.

    Os 24 universitários foram divididos em 2 grupos que foram estabelecidos por meio de sorteio. Um grupo teve como função COMPORTAR-SE como agentes carcerários, enquanto o outro grupo como detentos. O grupo de agentes deveria apreender e levar o grupo de detentos à prisão e realizar procedimentos que mantivessem a ordem da instituição fictícia. O interessante é que fizeram um re-arranjo tão fidedigno a realidade que viaturas, o flagrante, equipamentos e tudo o que tem direito na "vida real" foi providenciado, proporcionando com maior eficiência a GENERALIZAÇÃO das contingências reais às superficiais.

 

Da observação

    Como vou disponibilizar ao fim da postagem (em "Moral da História) o LINK DO SITE OFICIAL do EXPERIMENTO (disponível em vários idiomas, inclusive em português) vou adiantar a apresentação dos comportamentos observados.

     Os detentos, ao longo dos dias da experiência, (o experimento teve que ser abortado por motivos éticos e em prol da saúde dos envolvidos) começaram a ficar "deprimidos" e "submissos", além de apresentar tentativas de CONTRA CONTROLE por meio de uma rebelião. Alguns detentos também apresentaram taxas de frequência de comportamentos variáveis, desde COMPORTAMENTOS DESEJÁVEIS SOCIALMENTE, passando por "problemas dermatológicos psicossomáticos" (em determinadas situações, certos estímulos eliciam respostas que estão "inadequadas" as contingências até a inflação de regras básicas do experimento. Essas respostas "inadequadas" eliciadas, são o que, alguns psicodinâmicos chamam de manifestação psicossomática)

    Obviamente, o COMPORTAMENTO dos guardas também foi CONDICIONADO pelas CONTINGÊNCIAS experimentais. Estes por sua vez  "tornaram-se sádicos" (reforçados pela manifestação de sofrimento de outra pessoa), "extremamente autoritários" (abusavam das condições de controle) e com abuso de poder (controle de contingências extremamente reforçadoras para os guardas em detrimento de menor equidade destas contingências para os detentos / Tipo àquele conceito de justiça sendo burlado).


Moral da história
    
   NÃO, eu não vou contar os resultados do experimento. Podem me chamar de preguiçoso, mas faço isso para que vocês possam conferir na íntegra TODO O EXPERIMENTO e não saírem por aí falando que o experimento é desumano ou DEU ERRADO, como eu vi em muitos blogs que não se deram ao trabalho de ler todo o texto e nem de disponibilizar aos seus leitores.

Mas...

     Acho válido fazer alguns Levantamentos relevantes sobre a experiência

"A que contingências nosso comportamento é função?"
    Zimbardo (autor da pesquisa), posteriormente escreveu um livro chamado "O efeito Lúcifer". Esta obra provavelmente fala das etapas e procedimentos da experiência, associado à reflexões sobre a possível "natureza humana". Ela é boa? Ela é ruim? Ela é influenciável?. Bom, em todo caso, algo deve ficar claro TODO COMPORTAMENTO É ÚTIL PARA MANUTENÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA. Ele não está lá por seguir um "instinto de bondade ou maldade", ele existe por SER FUNÇÃO e ter VALOR VITAL.

   Nesta experiência, destaca-se elementos que devem ser considerados em qualquer leitura deste processo. Alguns que me atentei ao ler sobre o experimento foram:

a) As contingências modelam o comportamento mais do que regras. Existiam várias regras que ambos os grupos deveriam seguir, entretanto, devido ao "gritante" das contingências, os grupos se comportaram regidos PELAS CONTINGÊNCIAS, enquanto as regras não foram suficientemente REFORÇADORAS ou AVERSIVAS para que controlassem o comportamento destes grupos;

b) O ambiente carcerário é reforçador para MUITOS profissionais "sádicos". Assim como muitas pessoas são reforçadas a ver cenas de assassinato de "criminosos" por uma generalização, profissionais que trabalham com a segurança das organizações carcerárias não estão "livres" desta generalização. Resultado: Agredir a população carcerária se torna extremamente reforçadora para profissionais mal treinados. Obviamente, em uma situação de Controle e total discrepância de equidade (relação igual entre duas partes), não é de se estranhar o surgimento de uma relação de contra-controle que perpetua por um longo período (se não for por toda a história do sistema carcerário) conflitos entre detentos e profissionais;

c) Pessoas não são boas ou más naturalmente. Elas simplesmente se comportam adequando-se as contingências. Muitos utilizam deste experimento para um questionamento sobre a "verdadeira natureza humana: boa ou ruim". Acho tal discussão prolixa e circular. A definição de bondade e maldade tem finalidades práticas e teóricas quando avaliamos sociedades isoladas em conformidade com a ética, se falamos de uma legitimidade e universalidade de uma espécie, definições por períodos e culturas isoladas caem no problema do reducionismo de informações;

d) Necessidade de mudança dos sistemas carcerários. Se considerarmos este experimento, associado ao referencial bibliográfico sobre o assunto, me pergunto o por quê de já não haver uma análise minuciosa do sistema carcerário em prol de um modelo mais efetivo e educativo?
 Não se trata de "dar moleza" aos detentos, mas sim de uma formulação mais eficiente de um problema que já é velho. Se conhece os erros gritantes deste sistema, no entanto, mantem-se o modelo tradicional. Acredito que a ANÁLISE DO COMPORTAMENTO tem um grande arsenal TEÓRICO-PRÁTICO a oferecer e uma possível reformulação deste sistema.



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Trailer do filme "The experiment" (Detenção - 2010):

Link do site da Experiência da prisão de Stanford para quem "não pegou" no decorrer do texto:http://www.prisonexp.org/portugues/

domingo, 6 de maio de 2012

O progresso nos estudos das Micro-expressões faciais


     As pessoas mais próximas de mim sabem de meu grande interesse por MICRO-EXPRESSÕES FACIAIS, assim como do estabelecimento de PADRÕES DE COMPORTAMENTO. 

     Esse meu interesse por padrões de comportamentos que pudessem estar relacionados com as EMOÇÕES aumentou consideravelmente quando conheci, superficialmente, o trabalho de Paul Ekman e Freitas Magalhães. O estudo das emoções e o estabelecimento de um PADRÃO entre COMPORTAMENTOS EMITIDOS e COMPORTAMENTOS ELICIADOS (Lembrando que comportamentos eliciados são os respondentes/pavlovianos, e estão ligados à contrações musculares, sistema endócrino, "valor de sobrevivência", etc) tem possibilidades de melhora na efetividade dos processos laborais em áreas como a forense, clínica e educacional. Considerando que estas áreas dependem, substancialmente, da compreensão dos comportamentos emocionais eliciados nos sujeitos.

    Diante disso, não poderia deixar de compartilhar com vocês o progresso dos estudos das MICROEXPRESSÕES FACIAIS pelo Dr. Armindo Freitas-Magalhães (psicólogo português que se destaca nos estudos das micro-expressões, mas especificamente o estudo das diferenças no sorriso) em uma entrevista para o canal português "Mentes que Brilham". 
        

terça-feira, 24 de abril de 2012

Esclarecimentos mínimos sobre Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento

     Anteontem conversei com um acadêmico de licenciatura em Física. A conversa iniciou satisfatória (pelo menos para mim), ele me fazia perguntas sobre o BEHAVIORISMO RADICAL e eu apresentava meus conhecimentos de iniciante. Fiquei contente com a sua disposição... 
    Entretanto, logo ele me esclareceu que as perguntas se tratavam de um trabalho que ele estava fazendo. Disse a ele que eu era aspirante dessa teoria e a achava, dentre os modelos teóricos da PSICOLOGIA a que melhor se enquadrava com a METODOLOGIA CIENTÍFICA. Como resposta, obtive dele uma afirmação que já não me é estranha:


    Para mim, a teoria behaviorista é tirana e trata os alunos (como era um trabalho que tinha a ver com docência, usou-se aluno, mas a crítica usual é com o conceito de pessoas) como pessoas passivas que não podem agir livremente.

    Devolvi com uma resposta sobre  os mitos que o levaram a essa afirmação e disponibilizando meu e-mail e telefone para posteriores dúvidas que ele tenha sobre o assunto, caso queira conhecer a Análise do Comportamento e o Behaviorismo Radical sem preconceitos.

    Essa conversa serviu-me como estímulo para a criação de um texto básico em tópicos sobre MITOS e VERDADES sobre a Análise do Comportamento (AC) e sobre a filosofia que rege essa ciência, o Behaviorismo Radical (BR).

Let's go, então!

Curto demais colocar essas plaquinhas no
meu Facebook, agora veio para essa postagem.
Generalização?

a) O BR/AC não é uma ciência que estuda, exclusivamente, "ações que podem ser vistas". Existem comportamentos que só podem ser "acessados" por meio do relato do organismo. Esses comportamentos são chamados de ENCOBERTOS, é nesta esfera que estão os ditos "processos cognitivos".

b) O BR/AC não desconsidera as individualidades das pessoas. Ao realizar ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO e levantar o HISTÓRICO DE CONDICIONAMENTO do organismo/pessoa considera-se particularidades que estão ligadas a experiências individuais deste organismo. Diante disso é possível compreender os comportamentos emitidos (ou eliciados, no caso de comportamentos respondentes) pelo organismo, prever comportamentos futuros com maior assertividade e modificá-los.

c) O BR/AC não se limita a estudos e aplicabilidade com animais não-humanos. Apesar das bases científicas do BR/AC surgiram por meio de experimentos com animais não-humanos (ratos e pombos são os mais utilizados), considera-se aspectos EXTRA-ESPÉCIES, ou seja, características que estejam além de barreiras de uma espécie específica. Quando utiliza animais como os mencionados anteriormente, considera-se características comuns de todas as espécies ESPECTROS DA SOBREVIVÊNCIA (alimentação, água e sono) e ESPECTROS DA REPRODUÇÃO (contato sexual e defesa de prole) e todas essas características considerando fatores que devem ser olhados criticamente por questões FILOGENÉTICAS. Estes experimentos se assemelham com outras ciências que utilizam de animais não-humanos para experimentação de medicamentos (porcos e ratos são os mais comuns para esses fins),e como podem ver, as diferenças em tais experimentos são mínimas, dadas a análise crítica de fatores EXTRA-ESPÉCIES.

d) O BR/AC não ignora as "entre linhas". Muito comum ouvir de acadêmicos e profissionais que o BR/AC ignora as entre linhas dos relatos das pessoas, principalmente se tratando de contexto clínico. A verdade é que essa crítica desconsidera as ferramentas que o BR/AC utiliza para compreender o relato verbal. Os relatos do cliente/paciente são mantidos por meio de contingências, assim como demais comportamentos elas podem ser observadas e tradas como qualquer outro COMPORTAMENTO OPERANTE. Além do mais, uma análise funcional objetiva compreender que função determinado comportamento desempenha no organismo.

e) O objeto de estudo do BR/AC é o comportamento. Conceitos como mente, psique, etc. não explicam o comportamento, somente atribuem crédito a entidades sem comprovação científica, portanto, o BR/AC não utilizam destes conceitos.

f) O BR/AC não é Estímulo-Resposta. Essa relação E-R diz respeito a comportamentos respondentes (reflexos como a dilatação de pupilas diante de um flash de luz) e do início do Behaviorismo com sua vertente Metodológica (Behaviorismo Metodológico). No BR/AC, considerou-se a existência de elementos fundamentais para a ação do comportamento que dizem de uma ação discriminativa de estímulos, assim como outras características contingenciais de punição e reforço, por exemplo.


Bom, não haveria espaço para esclarecimentos sobre o Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento em uma postagem de blog como este (até mesmo, porque eu ainda estou dando os meus primeiros passos, hehe), acho que um artigo daria conta para tal tarefa. Essa postagem, de caráter inicial, pode servir de ponto de partida para os que acabaram de conhecer sobre o assunto e estão presos por conceitos pré-estabelecidos sobre a teoria. Fica aqui algumas colocações de incentivo ao estudo da Análise Comportamental e a desmitificação de seu método.

PESSOAL DA EDUCAÇÃO,
 É sério. Conheçam mais sobre a Análise do Comportamento e suas implicações para a educação. ok?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Rebelião em Presidio de Aracaju e sua relação com controle e contra-controle

   "Rebelião em presídio de Aracaju chega ao fim" foi a notícia que me chamou a atenção quando abri o Google Notícias hoje. Como não costumo assistir televisão, acabei sabendo desta situação quando ela já estava encerrada.
    Não sou um blogueiro que trata de comentar temas cotidianos, mas essa notícia me lembrou um conceito interessante em Análise Comportamental, estou falando da relação CONTROLE e CONTRA-CONTROLE. 

Para ver a notícia clique aqui.
   O ambiente carcerário é um local interessante de se observar a relação de CONTROLE. Podemos entender como CONTROLE a "sensação" de equidade entre dois organismos (neste caso, pessoas). Esta "sensação" está ligado a um SISTEMA MÚTUO DE REFORÇAMENTO. No caso do sistema carcerário, os detentos, embora em uma situação de PUNIÇÃO NEGATIVA (diminui a frequência do comportamento socialmente inaceitável pela retirada do estímulo reforçador que é a liberdade física), são REFORÇADOS por elementos que os fazem EMITIR COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE DESEJÁVEIS. Como exemplo de reforçadores deste sistema temos o REFORÇO NEGATIVO de diminuição de pena por bom comportamento, possibilidades de exercício de atividades físicas e/ou trabalhos, acesso a serviços REFORÇADORES intra-institucionais (fala-se de reforço negativo porque os detentos apresentam aumento da frequência do comportamento socialmente desejável pela retirada do estímulo aversivo, neste caso, o ócio, maior reclusão dentro do sistema, maior tempo dentro da penitenciária/prisão). 

    Não é somente os detentos que são reforçados pelo sistema carcerário. Olhando exclusivamente para a instituição carcerária e os envolvidos diretamente com ela (agentes penitenciários, professores, profissionais da saúde, gestores internos, faxineiros, cozinheiros, etc) também SÃO REFORÇADOS PELA INSTITUIÇÃO E PELO RESULTADO CONTINGENCIAL DO BOM COMPORTAMENTO dos detentos. Podemos dizer que o bom comportamento (entenda bom comportamento como comportamento socialmente aceitável pela instituição e por grande parte da sociedade em geral) do detento trará reforçadores financeiros  aos gestores, já que apresentaram uma boa administração, criará uma imagem de sistema sócio-político eficaz, proporcionará "sentimento de segurança" para funcionários (o que aumentará a produção), etc, etc, etc. 

...Tudo anda TRANQUILAMENTE no Presidio Aracaju quando o que acontenceu?

          Uma REBELIÃO. 




E ai? O que aconteceu?

   Agora, falamos da relação de CONTRA-CONTROLE. Não havia mais uma relação de EQUIDADE, não havia mais REFORÇADORES MÚTUOS. Alguém nesta relação detentos/instituição estava sendo REFORÇADA DE FORMA INEFICAZ.

   Este fragmento de texto da reportagem possibilitar perceber indícios que anunciaram a probabilidade desta situação de contra-controle. Veja:


"Os rebelados pediam agilidade nos processos e nas audiências judiciais, mudança do comando do presídio e anulação do contrato com a empresa responsável pela administração prisional."

    Note que estes sujeitos emitiram COMPORTAMENTOS VERBAIS anteriormente de uma situação que indicava a possibilidade de uma ação agressiva de CONTRA-CONTROLE. Relatos verbais são um forte indício de que as pessoas já NOTARAM UMA RELAÇÃO DESIGUAL ou insatisfatória. Protestos políticos, rebeliões de filhos com pais e ações contra um líder autoritário são também exemplos de uma ação de CONTRA-CONTROLE. Nessas relações de desigualdade, há uma quebra de REFORÇADORES MÚTUOS e um dos sujeitos/grupos não é "SACIADO" nesta relação.

   Bom, não cabe a mim avaliar os erros ou falhas para o ocorrido em Aracaju, até mesmo porque não tenho competência para tal. Utilizei o exemplo para exemplificar a relação de controle e contra-controle e de como ESTAR ATENTO A RELATOS VERBAIS é de extrema importância para um líder que deseja alcançar seus objetivos, juntamento com a colaboração dos membros de seu grupo.


ps.: Peço desculpas aos profissionais ou estudantes da área pelo uso de termos como "detento" e "sistema carcerário", caso estes não mais estejam em uso. 

sábado, 14 de abril de 2012

Psicoterapia: Quem precisa dela?

    PSICOTERAPIA é um processo terapêutico realizado por profissional da PSICOLOGIA. Seu objetivo é a AQUISIÇÃO, EXTINÇÃO e MANUTENÇÃO de um REPERTÓRIO COMPORTAMENTAL. Essa pode ser uma definição apriorística para o público em geral
... Mas, PRA QUEM SERVE A PSICOTERAPIA?



   Bom, ao longo do histórico de condicionamento de um organismo existem ESTÍMULOS CONDICIONADOS que se tornam AVERSIVOS ou REFORÇADORES. Skinner em "Questões Recentes na Análise Comportamental" afirma que muitos problemas que necessitam de PSICOTERAPIA estão envolvidos com FALHAS DE CONDICIONAMENTO.

  Podemos compreender essas falhas de condicionamento como sendo COMPORTAMENTOS DESADAPTATIVOS (uso o termo desadaptativo, referindo-se a comportamentos que não são "coerentes" com as contingências existentes). Ou seja, determinado comportamento era REFORÇADO ou PUNIDO em uma determinada CONTINGÊNCIA e não mais o é em outra, a pessoa fez uma GENERALIZAÇÃO. Dentro deste eixo, o sujeito ainda insiste em emitir os MESMOS COMPORTAMENTOS de outrora, no entanto, esses comportamentos não tem uma RELAÇÃO CAUSAL INDEPENDENTE , mas o sujeito assume que seus comportamentos tem relação direta com dado fenômeno, falamos então de um COMPORTAMENTO SUPERSTICIOSO. Assim como a generalização são um conjunto de comportamentos desadaptativos.

  Dadas essas circunstâncias, a pessoa "percebe" essas contingências como aversivas, isso porque o COMPORTAMENTO DO SUJEITO não tem uma relação que é REFORÇADORA de seus antigos comportamentos. Comportamentos que anteriormente era, reforçados, mas agora não mais o são também caem no conjunto de comportamentos desadaptativos. Esses comportamentos que outrora eram reforçados ou punidos, podem estar ligados com a ONTOGÊNESE (histórico de vida da pessoa/organismo) ou FILOGÊNESE (histórico por seleção natural de determinada especie).

 Como EXEMPLO, podemos analisar as seguintes situações:


- João possuía um relacionamento estável com Maria. Todos os dias João mandava mensagens para ela e falava dela constantemente, esse conjunto de comportamento associado as fotos que colecionava dela e a repetição de músicas que continham o nome Maria era coerente com o CONJUNTO DE COMPORTAMENTOS denominado amor. João estava amando Maria. Certo dia, João ligando para Maria e não obtendo resposta resolve visitá-la sem avisar, ao chegar na casa de Maria a vê com outro cara, o Marcos. João sai da casa e realiza uma GENERALIZAÇÃO da contingência. João, a partir de então, não consegue estabelecer novos relacionamentos por "acreditar" que RELACIONAMENTOS SÃO DANOSOS E O FAZEM MAL (é aversivo).

- Lucas (uma criança com IMC superior a 27,2) possui problemas cardíacos graves por sua ingestão impulsiva de doces. Seus pais na tentativa de diminuir que Lucas ingira alimentos com demasia de açúcar, diminui açúcar dos sucos e o impede de comer guloseimas, junto com esta medida, os pais de Lucas o levam a um nutricionista e a um médico para que possam sugerir uma boa alimentação, assim como realizar tratamento para seu problema cardíaco. Após duas semanas de medidas médico-nutricionista, Lucas não consegue dormir, relata estar cansado e apresenta dificuldades de relacionar-se com outras crianças;

Bom, nestes dois exemplos temos duas circunstâncias que seria RECOMENDADO a PSICOTERAPIA.  No primeiro exemplo, temos um caso de dificuldades de relacionamento devido a um estímulo aversivo (traição da amada) que foi GENERALIZADO para quaisquer CONTINGÊNCIAS.

No segundo exemplo, nota-se a necessidade de PSICOTERAPIA associada com outros tratamentos, fala-se uma AÇÃO MULTIDISCIPLINAR. Lucas está diante de uma situação envolvendo uma GENERALIZAÇÃO de ordem FILOGENÉTICA (anteriormente, nossa espécie necessitava de acumulação de glicose para suportar longos períodos de alimentação. Embora esse comportamento ainda prevaleça no homo sapiens sapiens atual, ele não é mais reforçado pela SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE). Um tratamento desta ordem deveria considerar este fator filogenético, associa-lo a estratégias de modificação do comportamento que a) não diminuam seu acesso a doces radicalmente, b) considere os problemas cardíacos da criança, c) considere as estratégicas nutricionais e d) estabeleça treinamento para os pais realizarem manutenção de medidas comportamentais adotadas.


Enfim...
Embora nem todas as pessoas necessitem de PSICOTERAPIA, estar atento as FALHAS DE CONDICIONAMENTO, assim como nos relatos de pessoas envolvidas no seu cotidiano é fundamental para o estabelecimento de um PADRÃO DE VIDA agradável e ADAPTADO as contingências CONSTANTEMENTE MUTÁVEIS.